Eu não tenho ideia de onde esteja, com quem esteja, como esteja e nada. Simplesmente não sei.
Não sei se você pode me escutar, se me vê chorando a noite ou se ouve meus risos de dia. Nem se sente falta dos abraços que eu nunca te dei, de ouvir os "eu te amo" que eu nunca disse ou pela gratidão que eu deveria ter tido. Não sei se você chora toda vez que pensa nos últimos anos de vida que eu te proporcionei. Eu sei que fui um péssimo filho.
Sei que meus sonhos são maiores que eu, que eu nunca vou ser bom o bastante para realizá-los e toda vez que eu penso nisso, imagino que eles sejam o meu reflexo de dar ao mundo algo que eu sempre achei que não tive. Mas tive. E tive muito mais do que eu, de fato, mereço.
As vezes eu lembro de dias como quando eu cheguei em casa e eu tinha um quarto. Lembro de como aquilo foi muito pra mim... Mas eu não me lembro de ter demonstrado ou apreciado como deveria que ficava feliz pelo seu sorriso em me dar algo que eu nunca tinha tido. Eu fui um idiota todas as vezes. Todas.
 Eu devia ter guardado todas as minhas respostas rápidas e insolentes, devia ter trancado meu choro e devia ter abaixado a cabeça sempre. Nunca devia ter pedido por mais, se você sempre me deu tudo. Até coisas que não estavam em seu alcance. Eu deveria ter mostrado alguma gratidão.
Mãe, não sei se daí você vê o mundo diferente: se vê as moléculas se juntando biologicamente, enquanto a magia acontece e o espetáculo da vida brilha. Não sei se é romântico assim. Se você pode ver as curiosidades do fundo do mar, ou se lá tem os segredos que você buscou desvendar, ou mesmo se mandou os seus para lá, onde nunca seriam encontrados. Não sei se as estrelas daí brilham como as nossas, ou se as pessoas daí também arrumaram luzes com as quais ofuscá-las, assim como as daqui. No seu último dia, eu simplesmente não estava lá. Eu nem queria estar lá, não queria voltar para casa. Me desculpa. Eu sou, e sempre vou ser um tanto idiota.  Eu sempre tive medo e esse medo sempre me afastou de tudo, por que ele sempre me deu a força necessária para me manter só, e eu sempre fui bom nisso. Mas eu queria poder ter sido um melhor filho, queria ter ao menos cumprido meu juramento com você. Queria que maio chegasse e eu não recebesse uma flor branca, podendo acreditar que chegaria em casa e você estivesse lá. Talvez eu precise de algumas vidas para pode me recuperar, já vi que não sou tão bom quanto penso.
 Eu queria pedir perdão, por ter tido uma vida tão diferente, que você sempre tentou fazê-la melhor, enquanto eu tentava me convencer que era completamente normal e no final: eu apenas me rendi ao conceito de "família"  e não vi o quanto mal eu fazia em cada palavra venenosa que eu cuspia. Perdão, Mãe... Espero que daí a vida seja muito bonita, que tenha bons rios e cachoeiras onde você possa meditar feliz enquanto sente o cosmo passando à sua volta, e digo que não vou desistir de nada e um dia vou pedir esse perdão pessoalmente. Espero que até lá eu seja uma pessoa melhor e possa ser digno de ser recebido com um sorriso seu e de meu Pai.

Que Deus a abençoe, Mãe,

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