Se hoje você perde o pão, é para lembrar como é sentir fome.
Se hoje sofre com uma injustiça, é para lembrar de sempre ser justo.
Se sofre com a mentira, é para lembrar que se deve sempre ser verdadeiro.
Tudo gira em torno de um aprendizado... Ou de um simples lembrete, para não esquecermos a dor de ontem. Mas e o que eu sinto hoje? Um misto de vazio e falta de direção... Um modelo de dia para ficar em branco. Onde eu acho o lembrete de hoje? Não quero encarar como uma prova, mas não sei se posso encarar como uma casualidade. O mundo não é casual.
Eu vejo como o princípio de dualidade que isso sugere, e por isso eu sinto medo para ter coragem de passar por hoje, eu sinto a dúvida para acreditar na conclusão, eu sinto vontade de fugir, para saber que quero ficar.
Hoje é só mais um dia, eu tento e vou me convencer disso. Como todos os outros dias, não vale a pena atribuir nada a um momento específico, se não distribuir toda essa carga ao longo dos anos, vai ter que aguentar todo o peso mais forte, de uma só vez, em uma só data.
Tenho fome de uma justiça que minhas mãos não podem fazer
Tenho fome de palavras que minha boca não pode pronunciar
Tenho sede de ideias que eu não consigo beber
Tenho mais fome do que qualquer alimento pode saciar
Tenho sido mais que um paradoxo, tenho sido intragável até para mim mesmo
O espelho reflete o produto de tudo aquilo que perdi, que não precisava ser construído
e mesmo assim, eu tentei construir.
O espírito antigo e imortal cede quando a carne se fraqueja no valor espúrio
no bambeio da perna ante ao mundo real.
A vida é feita de escolhas
Parece que nunca há o amanhã. Sempre alcanço as madrugadas, mas nunca chega o sono.
É como se todo dia a aurora da vida se apresentasse, eu pudesse ainda contemplar o meio dia, mas nunca o crepúsculo...
As ideias gritam, as vezes tenho lapsos e acordo fazendo qualquer coisa, e nem sequer lembro como cheguei ali. É uma fuga de qual realidade?
A fragilidade de uma alma consiste em que? Na relação social que aquele ser estabelece, se moldando pelos exemplos da infância e assumindo os postos daquilo que ele vê, na esperança de se integrar e ser notado, ou de se integrar e sumir de vez?
E quem nunca se encaixa? E quem faz de tudo, para nunca parece inútil? E é tachado de qualquer coisa?
Eu ouço as corujas e me pergunto o que elas pensam sobre amanhã.., Eu vejo minha cachorra e me pergunto se ela fica feliz em me ver, ou se está feliz por não ter que ficar sozinha. Até me pergunto o que ela sonha quando a vejo tremendo a noite.
Meu colchão é de uma cama de concreto, meus olhos são lentes de vidro, meus dedos são pequenos para o tanto que quero dizer.
As vozes são infinitas.
Tudo dói. Andar, comer, falar, respirar.
Meus olhos doem quando acordo, quando ando para a luz do dia e até mesmo quando os fecho, cansados.
Meu peito queima, minhas pernas ardem e minhas costas se tornam inflexíveis. Tudo é um tipo de dor. Minha mente dói.
Meu nariz registra cheiros que me lembram de sensações e eu logo abstraio o concreto. Há dor nisso: a dor está em paradoxar, e o corpo não entende o toque e por isso ele dói. Ele transforma um possível carinho, numa sensação de dor num nível tolerável.
Pensar na dor, estranhamente, não dói. Lembrar dela sim, mas pensar nela não. Me dá um vazio. Eu sinto dor quando as lágrimas ardem meus olhos, ou então quando as sinapses me eletrocutam o cérebro. Pensar muito me fortalece enquanto me deixa fraco.